domingo, 6 de junho de 2010

Estática

Foi numa noite estrelada que percebi. Estava encantada observando uma das inúmeras paisagens que se podia encontrar na área dos bosques. Era uma enorme planície, forrada de grama. Ao longe, apenas uma árvore, muito alta. Um tapete verde até onde a vista podia alcançar, iluminado apenas pela luz da lua. No começo, não pensei que esse dia pudesse chegar e, agora que chegou, não sei muito bem o que fazer. Deixe-me explicar o que aconteceu.

Enquanto estava deitada, comecei a repensar todo o meu passado. Tudo o que havia vivido antes de chegar aqui. Já não sabia mais se eu queria essas coisas de volta. Pensei na minha família, meus amigos. No último natal, quando eu ganhei a boneca que tanto amei, mas que já não carregava mais comigo. Lembrei-me das noites na casa das amigas, quando ficávamos acordadas conversando até tarde, escondidas, para evitar um sermão. Do dia seguinte, que mal conseguíamos ficar acordadas na escola. Da primeira vez que gostei de um menino. Das conversas de corredor com minha irmã. Da última vez que vi o rosto da minha mãe... memórias especiais, com certeza.

Talvez vocês me tomem como louca, mas já não sabia mais se queria voltar pra tudo aquilo; não sabia ao certo se queria vê-los novamente. Na verdade, não sabia mais se queria ver qualquer pessoa, mesmo as daqui. Senti que não fazia questão de mais nada, enquanto eu tivesse aquela paisagem para observar. Poderia ficar ali para sempre, se quisesse. De fato, permaneci naquele campo por mais três dias, completamente sozinha. Pela primeira vez, não gastei todas as minhas forças em procurar uma saída. Não passei horas treinando minha mente, com medo de perder a noção de quanto tempo estava aqui. Pela primeira vez, não senti aquela necessidade patológica de querer algo que não se tem. Não precisava, não queria nada, não queria ninguém. Nunca estive tão tranqüila antes. Mesmo enquanto estava perto da minha família e meus amigos, jamais me senti tão... feliz?

Se era felicidade, ou se eu estava apenas me enganando, eu não sei. Talvez eu tenha conseguido encontrar a paz que muitos passam a vida inteira procurando; talvez minhas opções tenham finalmente se esgotado. E, sinceramente, se é uma coisa ou outra, no momento não me interessa saber.




Tudo estava tão distante como um sonho, e talvez devesse continuar assim. Dessa forma, essas memórias permaneceriam especiais para sempre.

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